terça-feira, 12 de junho de 2018

"Bebês & Mamães"

Quando nascemos não temos um reportório emocional completo, bem pelo contrário, é necessário que os processos de amadurecimento e aprendizagem realizem o desenvolvimento das capacidades necessárias que permitem que as emoções venham à superfície.
Durante as primeiras semanas de vida não surgem reacções emocionais verdadeiras embora possam aparecer gestos que nos fazem interpretar erradamente a sua existência. 
Os recém-nascidos só são capazes de expressar a dor física. 
A aprendizagem, a imitação de pessoas mais velhas, a identificação empática e a educação vão estimulando as crianças a responder aos impulsos agradáveis ou desagradáveis.
Durante os três primeiros meses de vida os processos de amadurecimento e de aprendizagem já permitem a aparição das emoções primárias: surpresa, interesse, alegria, tristeza, raiva e medo.
Entre os dois anos e meio e os três a criança começa a tomar consciência da sua identidade pessoal, ou seja, já percebe que é um ser diferente e diferenciado e a partir desse momento pode começar a ter emoções sobre si mesmo, como a inveja, a empatia ou o constrangimento.
Mais tarde as crianças aprendem as normas de um comportamento social e as suas emoções podem dizer respeito aos próprios actos, ao sentimento de orgulho, à vergonha ou à culpa.
Como distinguir as expressões do bebé
A expressão facial é um sistema que produz sinais ou informações de quatro tipos: sinais faciais estáticos (a aparência), os sinais faciais lentos (as mudanças que ocorrem com o passar dos anos), sinais artificiais e sinais rápidos (as alterações físicas na atividade neuromuscular que podem levar a mudanças visíveis na ação facial).
Estes últimos são aqueles que nos interessam já que podem transmitir mensagens de vários tipos: emoções, sinais de comunicação, acções ilustradoras que acompanham a atenção e o discurso e sinais de comunicação não-verbal.
A expressão neutra é o ponto de partida para o reconhecimento de qualquer expressão emocional. 
Com ela podemos observar os efeitos que exercem os signos faciais estáticos, lentos e artificiais e, assim, podemos compará-los com as mudanças que produzem ao aparecer os signos faciais rápidos (responsáveis pela expressão das emoções).
As principais características que distinguem os sinais faciais rápidos envolvidos na expressão das emoções encontram-se nas mudanças que aparecem nos olhos, nas sobrancelhas, no nariz, nas bochechas, na boca, nos lábios e no queixo.
Dor: é uma das expressões faciais mais definidas e uniformes. Podemos identificar um rosto de dor num bebé através da seguinte configuração:
  • Desce e junta as sobrancelhas;
  • Eleva as bochechas e reduz a abertura dos olhos;
  • Fecha os olhos;
  • Enruga o nariz;
  • Prolonga o canto da boca;
  • Abre a boca.
- Alegria: é uma das emoções mais fáceis de reconhecer:
  • Eleva as bochechas e reduz a abertura dos olhos;
  • Mexe e separa os lábios;
  • Move o lábio inferior para baixo.
- Raiva:
  • Eleva a parte posterior das sobrancelhas,
  • Desce e contrai as sobrancelhas;
  • Eleva a pálpebra inferior e reduz a abertura dos olhos;
  • Eleva o queixo;
  • Os lábios permanecem tensos, juntos e apertados;
- Medo:
  • Levanta a parte interior das sobrancelhas e desce a exterior;
  • Eleva a pálpebra superior;
  • Separa os lábios;
  • Maxilar fica caído;
- Tristeza:
  • Eleva a parte interior das sobrancelhas e desce as mesmas formando um triângulo;
  • Reduz a abertura da boca. A boca pode mesmo estar a tremer;
  • Eleva o queixo.
Surpresa:
  • Elevação da parte interior das sobrancelhas e da parte exterior;
  • Eleva a pálpebra superior;
  • Maxilar caído e abertura da boca.
Enjoo:
  • Elevação das bochechas e uma redução acentuada da abertura palpebral;
  • Nariz enrugado;
  • Elevação do queixo.
 
Os diferentes choros
O choro é a primeira ferramenta de comunicação do bebé. 
Desde o nascimento que este implica uma vocalização característica, expressões faciais e movimentação dos membros. 
Geralmente, o choro é interpretado como um sinal de mal-estar e os pais tentam encontrar a causa para acabar com o sofrimento.
O choro é um sinal e um sintoma que pode ser avaliado pelas suas múltiplas componentes: frequência, duração, ritmo, intensidade e tom. Foram identificados seis tipos de choro: o de dor, de fome, de cólicas, de incômodo, de aborrecimento e de desconforto emocional. 
Cada uma destas formas de choro tem os seus parâmetros acústicos:
- O choro causado pela dor é muito curto, forte, de um tom alto e com uma breve pausa durante a qual o bebé não respira. 
Os olhos, geralmente, estão fechados durante a maior parte do tempo em que o bebé chora; produz-se uma considerável tensão na zona dos olhos. 
A boca abre-se devido à intensidade do choro. 
Este choro vai desaparecendo à medida que a dor reduz.
- Na maior parte das vezes o choro de fome é breve, contínuo, insistente e de um tom médio.
- As crianças que têm cólicas apresentam um choro muito persistente apesar das estratégias que se adaptam para acalmá-las.
- O aborrecimento expressa-se com lufadas de lágrimas.
- O sofrimento emocional é expressado através de uma variedade de formas de choro que estão associadas a cada uma das respostas emocionais do bebé (medo, raiva, enjoo, etc.)
- O choro de raiva: o choro pode começar com pouca intensidade, como protesto, e vai aumentando até atingir os níveis máximos em poucos segundos. 
Os olhos estão bem abertos, no entanto, os bebés não fixam o olhar numa pessoa. 
A boca pode abrir-se (menos que nos outros tipos de choro) e por se fechada bruscamente.
- Medo: a expressão do medo por parte dos bebés aparece uns segundos depois da aparição de um estímulo intenso (por exemplo: um ruído). 
Em primeiro lugar surge um reflexo muscular seguido de uma tensão facial, especialmente na boca. 
Se a tensão aumentar chega a um ponto que vai produzir uma explosão de lágrimas de grande intensidade. 
Os mais pequenos mantêm os olhos fechados por mais tempo e não costumam movimentar-se muito. O choro pode parar mas voltar aos poucos e poucos. 
Depois de estar calma a criança pode apresentar soluços e uma respiração forte. 
Normalmente, este tipo de choro pode durar mais tempo que o choro provocado pela raiva. 
Para além disso, as crianças procuram os pais ou alguém que as ajude e cuide delas.
Análises acústicas do choro
Entre as diversas formas alternativas para estudar as emoções está o estudo acústico do choro. 
É um processo de registo e análise breve e não invasivo. 
A valorização do choro nos bebés traz uma valiosa informação, não só sobre o estado emocional mas também sobre o estado neurológico e médico do bebé. 
De acordo com os estudos realizados até agora, os parâmetros anormais registados em análises acústicas ao choro podem revelar qualquer patologia no bebé. 
Diversas variações nas características do choro ajudaram a identificar: síndrome de Down, encefalite, meningite e danos cerebrais. 
Um estudo feito em 2007 por Robb, Crowell, Dunn-Rankin e Tinsley analisou os padrões acústicos de dois grupos. Um grupo de crianças com casos de morte súbita de algum irmão e outro grupo formado por crianças com baixo risco de morte súbita. 
Os autores concluíram que a análise ao choro pode ser útil como marcador de diagnóstico para identificar as crianças com alto risco de sofrerem uma morte repentina.
O diagnóstico feito através de análises acústicas do choro está ainda por explorar e por utilizar num contexto clínico. No entanto, sabe-se que tem várias utilizações, como por exemplo avaliar a mensagem que transmite o choro (o que permite reforçar a segurança do bebé e aumentar os vínculos afectivos entre este e os pais).
Bebês: equipe de universidade americana desenvolve ferramenta que pode analisar e decifrar o que está por trás do choro das crianças (Thinkstock)

Para os pais, o choro de um bebê pode ser sinal de fome, sono, dor ou desconforto. 
Os cientistas, no entanto, acreditam que variações acústicas do choro, imperceptíveis ao ouvido humano, podem carregar importantes informações sobre possíveis problemas de saúde ou de desenvolvimento do bebê, como distúrbios neurológicos, por exemplo. 
Uma ferramenta desenvolvida nos Estados Unidos pode ajudar os médicos a detectar doenças nas crianças cada vez mais cedo, ustamente por que analisa as características do choro. 
“Há muitas condições que podem se manifestar nos diferentes sons do choro. 
Por exemplo: traumas de nascimento, lesão cerebral decorrente de problema na gravidez ou parto e problemas médicos em bebês prematuros. 
A análise do choro pode ser um meio não invasivo de medir esses problemas em bebês muito pequenos”, disse Stephen Sheinkopf, professor de psiquiatria da Universidade Brown, nos Estados Unidos, e coordenador do estudo, em comunicado divulgado nesta sexta-feira.
Decifrando o choro — Para desenvolver a ferramenta, que é um programa de computador, Sheinkopf contou com a colaboração de especialistas da Faculdade de Engenharia e do Hospital Infantil e da Mulher, ambos da Universidade Brown. 
Após dois anos de estudo, a equipe criou um sistema automático que funciona em duas etapas. Na primeira fase, a ferramenta grava o choro do bebê, divide o áudio em pequenas partes de 12,5 milissegundos – cada milissegundo corresponde a um milésimo de segundo — e analisa esses trechos individualmente sob vários aspectos, como por exemplo, frequência e volume da voz.
A segunda etapa da ferramenta realiza outra análise do som do choro do bebê, mas, desta vez, de uma maneira mais ampla, diferenciando os sons como um grito individual, momentos de silêncio, sons mais longos ou mais curtos. 
Ao todo, o sistema contém 80 classificações diferentes, cada uma capaz de dar uma ‘pista’ sobre a saúde da criança.
“A ideia é que o grito do choro possa ser uma janela para o cérebro”, diz Barry Lester, diretor do Centro para Estudo da Criança em Risco do Hospital Infantil e da Mulher e um dos colaboradores da pesquisa. 
Segundo Lester, problemas neurológicos no bebê podem controlar as suas cordas vocais, e essas pequenas diferenças se manifestam em alterações no som e na frequência do choro.  
“A detecção precoce de problemas do desenvolvimento é fundamental e pode levar a descobertas sobre as causas desses distúrbios e de novas intervenções para prevenir ou reduzir a gravidade de doenças”, diz.
A equipe responsável pela ferramenta planeja disponibilizar o sistema para pesquisadores de todo o mundo, além de continuar realizando outros estudos na própria Universidade Brown com base na tecnologia. Sheinkopf, por exemplo, pretende estudar de que forma essa ferramenta pode dar pistas sobre a relação entre choro e autismo.

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