Eu desejaria ter forças para gritar ao Mundo inteiro: a Morte não existe!
Meu coração se encontra ainda opresso e sofrido.
Quanta saudade!
Minha mente vazia e oca de pensamentos dignos me faz recordar o dia fatídico.
Ah, se eu pudesse voltar atrás!
O que eu não daria para estar novamente naquela janela do 18o andar e ter alguém que me dissesse: Não vá! Não pule! Você é importante para mim!
Quanto é duro acordar para a realidade da vida e saber que os meus anseios eram apenas ilusão. A vida continua.
Os meus problemas se intensificaram, as minhas dores triplicaram.
Sim, dores quase físicas: meus ossos quebrados e esfacelados da queda, o sangue a jorrar intermitente.
O que fizera eu contra mim mesmo?
Pudera eu voltar atrás! Pudera eu ter a experiência de volta.
Tudo estava se findando, faltavam algumas semanas para que os supostos problemas pudessem se amainar.
Quão duras são as provas da vida, mas posso garantir que as do lado de cá são muito piores quando passamos por essa fieira.
Não vale à pena retirarmos a vida física em hipótese alguma, ainda mais por alguém, alguém que não nos soube dar valor, alguém que não nos desejou, alguém que optou por outros caminhos.
A nossa vida não tem preço.
A nossa vida física é oportunidade divina que nos foi confiada para levarmos a nossa cruz até o fim.
Por isso, venho escrever essa carta, falando do meu arrependimento, falando das minhas dores físicas e morais. Não vale a pena o suicídio!
O auto extermínio é ato impensado de quem não está com o juízo da cabeça.
Convido a pensarem naqueles que ficam.
Corações quebrantados de dor, outros culpados por não terem feito mais, outros, ainda, desesperados porque podiam mudar alguma coisa e não o fizeram.
Não é justo imputarmos tudo isso a essas pessoas que nos amam.
Cada uma delas age e faz o que pode para nos auxiliar.
São familiares, amigos, companheiros que ficam e a dor da saudade no abismo que nos separa.
Quantas vezes desejei gritar por eles e não me escutaram.
Quantas vezes desejei tocá-los como outrora fazia nos momentos de dores e aflições, num abraço afetuoso e verdadeiro, mas a resposta era o vazio, a inexistência do calor humano.
Vale à pena desperdiçar tudo isto?
Vale à pena jogar fora uma existência para cavar um poço mais fundo, encontrando lamaçal e podridão?
É certo que um dia a mão virá.
É certo que um dia, por Misericórdia Divina, o anjo bom chega e nos retira do cárcere de nós mesmos.
Mas até lá, quantas dores, quantos sofrimentos, quantas angústias...
Não seria melhor agarrar a mão que se encontra estendida hoje, aproveitando os recursos que a vida te oferece?
Não seria melhor que saíssemos desse local que nos encontramos de tristeza, mágoa e dor, olhando para frente e para o alto, enxergando aqueles que nos verdadeiramente amam?
Procuremos dar valor ao que é real.
As vezes, depositamos valores no que é transitório e passageiro.
Cada criatura é uma. Não podemos fazer com que os outros ajam da forma que gostaríamos.
Devemos respeitar as suas escolhas e seguir a nossa estrada.
Se desejarem estar ao nosso lado, muito bem, se corresponderem aos nossos sentimentos, melhor ainda, mas se, porventura, não o desejarem, ou não puderem, seguiremos adiante.
A vida vale mais do que isso e devemos aproveitá-la a cada dia.
Gostaria de agradecer pela imensa oportunidade, falar, ou melhor, escrever, faz bem à alma.
Desejo apenas que as bênçãos de Jesus envolvam os corações daqueles que estão perdidos e sem rumo, daqueles que, como eu um dia estive, estão à beira de, também, atirarem-se de suas janelas.
Que possam parar e meditar.
Que possam repensar nas escolhas que estão fazendo.
E que possam ter alguém, o que eu não tive, que diga:
Não faça! Você é importante para mim!
Que a Misericórdia Divina paire sobre os nossos espíritos tão devedores.
Obrigado!
Muita paz aos seus corações!
Um espírito fraco que um dia se deixou enlear pelas teias do suicídio