segunda-feira, 10 de agosto de 2015

"Espírito da carne"

Desencarna quem tem carne para sair do corpo,já pessoa magra "desensossa",sai dos ossos.
Curiosa a resistência à expressão desencarnar. Compreensível que o materialista não a aceite. Afinal,para ele tudo termina no túmulo... O mesmo não deveria ocorrer com as pessoas que aceitam a sobrevivência, adeptos de qualquer religião. Se concebemos que a individualidade sobrevive à morte física, ela se impõe para definir o processo que libera o Espírito da carne.
As religiões, que deveriam preparar os fiéis para a vida além‐túmulo, conscientizando‐os da sobrevivência e descerrando a cortina que separa os dois mundos, pouco fazem nesse sentido, porquanto limitam‐se a incursões pelo terreno da fantasia.
Imperioso para uma compreensão melhor do assunto considerar a existência do corpo espiritual ou perispírito.
O homem é, portanto, formado de três partes essenciais:
O corpo ou ser material, análogo ao dos animais e animado pelo mesmo princípio vital;a alma, Espírito encarnado que tem no corpo a sua habitação. O princípio intermediário, ou perispírito, substância semi-material que serve de primeiro envoltório ao Espírito e liga a alma ao corpo. Tais, num fruto, o gérmen, o perisperma e a casca.
Desde os tempos mais recuados os estudiosos admitem a existência de um corpo extra-carnal, veículo de manifestação do Espírito no plano em que atua (no plano físico, ligando‐o à carne; no plano espiritual, compatibilizando com as características e os seres da região onde se situe).
Todos nós "morremos", diariamente, durante o sono,talvez seja um ensaio ou um pré-preparo para este inevitável acontecimento.
A morte virá como um ladrão, oculto e de repente. A morte é certa mas a hora incerta.
A expressão "morte" ou "desligamento" define bem o processo desencarnatório. Para que o Espírito liberte‐se deve ser desligado do corpo físico, já que permanecemos jungidos a ele por cordões fluídicos que sustentam nossa comunhão com a matéria.
A desencarnação, a maneira como o Espírito, com seu revestimento perispiritual, deixa o corpo, é inacessível à Ciência da Terra, em seu estágio atual de desenvolvimento,porquanto ocorre na dimensão espiritual, que nenhum instrumento científico, por mais sofisticado, tem conseguido devassar.
Ficamos, portanto, circunscritos às informações dos Espíritos, que esbarram nas dificuldades impostas por nossas limitações (algo como explicar o funcionamento do sistema endócrino a uma criança), e pela ausência de similitude(elementos de comparação entre os fenômenos biológicos e os
espirituais).Sem entrar, portanto, em detalhes técnicos, poder‐seia dizer que o desencarne começa pelas extremidades e vai se completando na medida em que são desligados os cordões fluídicos que prendem o Espírito ao corpo.
Sabe‐se que o moribundo apresenta mãos e pés frios,um fenômeno circulatório, porquanto o coração enfraquecido não consegue bombear adequadamente o sangue. Mas é também um fenômeno de desligamento. Na medida em que este se desenvolve, as áreas correspondentes deixam de
receber a energia vital que emana do Espírito e sustenta a organização física.
No desdobramento desse processo, quando é desligado o cordão fluídico que prende o Espírito ao corpo, à altura do coração, este perde a sustentação perispiritual e deixa de funcionar. Cessa, então, a circulação sanguínea e a morte consuma‐se em poucos minutos.
A Medicina dispõe hoje de amplos recursos para reanimar o paciente quando o coração entra em colapso. A massagem cardíaca, o choque elétrico, a aplicação intracardíaca de adrenalina, têm salvado milhares de vidas,quando aplicados imediatamente, antes que se degenerem as células cerebrais por falta de oxigenação.
Tais socorros são eficientes quando se trata de mero problema funcional, como o enfarte, um estrangulamento da irrigação sanguínea em determinada área do coração, em virtude de trombo ou de estreitamento da artéria.
O enfarte pode implicar em desencarne, mas nem sempre significa que chegou a hora da Morte, tanto que são frequentes os casos em que a assistência médica recupera o paciente.
Se, entretanto, a parada cardíaca for determinada pelo desligamento do cordão fluídico, nenhum médico, por mais hábil, nenhum recurso da Medicina, por mais eficiente,operará o prodígio de reanimá‐lo. O processo torna‐se irreversível.
Morte física e desencarne não ocorrem simultaneamente. O indivíduo morre quando o coração deixa de funcionar. O Espírito desencarna quando se completa o desligamento, o que demanda algumas horas ou alguns dias.Basicamente o Espírito permanece ligado ao corpo enquanto são muito fortes nele as impressões da existência física.
Indivíduos materialistas, que fazem da jornada humana um fim em si, que não cogitam de objetivos superiores, que cultivam vícios e paixões,os criminosos e os suicidas, ficam retidos por mais tempo, até que a impregnação fluídica animalizada de que se revestem seja reduzida a níveis compatíveis com o desligamento.
Certamente os benfeitores espirituais podem fazê‐lo de imediato, tão logo se dê o colapso do corpo. No entanto,não é aconselhável, porquanto o desencarnante teria dificuldades maiores para ajustar‐se às realidades espirituais. O que aparentemente sugere um castigo para o indivíduo que não viveu existência condizente com os princípios da moral e da virtude, é apenas manifestação de misericórdia. Não obstante o constrangimento e as sensações desagradáveis que venha a enfrentar, na contemplação de seus despojes carnais em decomposição, tal circunstância é menos traumatizante do que o desligamento extemporâneo.
Há, a respeito da morte,ou ao desencarne, concepções totalmente distanciadas da realidade. Quando alguém morre fulminado por um enfarte violento, costuma‐se dizer :"Que morte maravilhosa! Não sofreu nada!" No entanto, é uma morte indesejável.Falecendo em plena vitalidade, salvo se altamente espiritualizado, ele terá problemas de desligamento e adaptação, pois serão muito fortes nele as impressões e interesses relacionados com a existência física.Se a causa da morte é o câncer, após prolongados sofrimentos, em dores atrozes, com o paciente definhando lentamente, decompondo‐se em vida, fala‐se:"Que morte horrível! Quanto sofrimento!"
Paradoxalmente, é uma boa morte.Doença prolongada é "tratamento de beleza" para o Espírito. As dores físicas atuam como inestimável recurso terapêutico, ajudando‐o a superar as ilusões do Mundo, além de depurá‐lo como válvulas de escoamento das impurezas morais. Destaque‐se que o progressivo agravamento de sua condição torna o doente mais receptivo aos apelos da religião,aos benefícios da prece, às meditações sobre o destino humano. Por isso, quando a morte chega, ele está preparado e até a espera, sem apegos, sem temores.
Algo semelhante ocorre com as pessoas que desencarnam em idade avançada, cumpridos os prazos concedidos pela Providência Divina, e que mantiveram um comportamento disciplinado e virtuoso. Nelas a vida física extingue‐se mansamente, como uma vela que bruxuleia e apaga,inteiramente gasta, proporcionando‐lhes um retomo tranquilo, sem maiores percalços.
Existem leis instituídas pelo Criador que disciplinam a evolução de Suas criaturas, oferecendo‐lhes experiências compatíveis com suas necessidades.Uma delas é a Reencarnação, a determinar que vivamos múltiplas existências na carne, quais alunos internados num educandário, periodicamente, para aprendizado específico.O conhecimento reencarnatório nos permite desvendar os intrincados problemas do Destino. Deus sabe o que faz quando alguém retorna à Espiritualidade.
Do Livro Richard Simonetti - QUEM TEM MEDO DA MORTE?

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