sexta-feira, 23 de março de 2012

DOR EVOLUÇÃO - DOR EXPIAÇÃO - DOR AUXÍLIO

Significativa parcela da comu­nidade planetária desconhece a
verdadeira causa e o valor do processo doloroso no inter­câmbio
habitual com a criatura humana. Quando avaliada "a vôo de pássaro", a
dor é tida na conta de tormento inde­sejável capaz de suscitar o
sofrimento, as lágrimas e o pavor das criaturas deses­peradas perante
as aflições terrenas. Todos repudiam a dor, desejam afastá-la por
qualquer meio, muito embora, apenas a vontade, nem sempre seja o
recurso su­ficiente para impedir a visita daquela que se esconde sob o
manto de duas variantes implacáveis: a dor física e a dor moral.
 
Ao contrário do que imaginam os desa­visados, a dor não se trata de um
castigo imposto por Deus ou de uma condição aleatória que nos atinge
sem um motivo aparente. De acordo com os princípios que norteiam a
doutrina espírita, o acaso e o determinismo absoluto inexistem, de
maneira que, ninguém deveria atribuir a tais fatores a causa das
desditas atrozes que, por vezes, fustigam a alma humana.
 
Diante do fato impõe-se o conhecimento de causa, maneira correta de se
nortear os passos na desafiadora caminhada ao longo da existência
planetária. Ao clas­sificar o orbe terreno como morada de provações e
expiações, Allan Kardec nos alerta para o atual padrão evolutivo da
humanidade, na medida em que ressalta a prevalência do mal sobre o
bem. Ora, isto serve como um chamamento capaz de nos predispor ao
esforço da reforma íntima. Então, conscientizados de nossas atuais
restrições evolutivas, não podemos falar de dor sem fazer referência à
questão da responsabilidade individual posta em prática no decorrer
das reen­carnações sucessivas.
 
 A tendência da maioria é culpar a má sorte, como se as aflições
corriqueiras não respondessem aos mecanismos sutis da mente assolada
por dívidas morais e sentimentos de culpa. Por isso, costumamos
afirmar que as di­retrizes espíritas servem para aclarar a nossa
percepção interior, facilitando-nos a reflexão a respeito das próprias
vivências desarmônicas ensaiadas em todas as épocas. O mal que
infligimos aos se­melhantes não se dilui na esteira dos tempos, assim
como a fumaça se dissipa no ar atmosférico. A memória espiritual retém
em seus refolhos os atentados co­metidos intencionalmente contra a
har­monia cósmica. Todavia, o remorso re­sultante assemelha-se a
verdadeiro corpo estranho passível de atormentar o equi­líbrio
desejável do nosso campo mental. A consciência profunda, a cenoura
infle­xível de nossas atitudes infelizes, em determinado instante, nos
impele à drenagem saneadora daquilo que nos in­felicita.
 
 Invariavelmente tal escoamento se processa por meio das múltiplas
formas de sofrimento e aflição. A dor sinalizada reflete a quantidade
de desarmonia in­terna de que se é portador. Quanto maior a sua
intensidade, maior a pendência a ser resolvida da melhor maneira no
trans­correr do jornadear terreno. Portanto, em relação à dor, o
problema é de ordem individual, pois a alma, na condição de
instrumento refletivo da perfeição divina não apresenta condições de
albergar em sua intimidade, por tempo dilatado, aquilo que não
contribua para o engrandecimento progressivo de si própria. O livre
arbítrio constrói diariamente o nosso destino, alter­nando harmonia e
felicidade ou sofri­mento e tristeza, tudo na dependência do
comportamento com o qual marcamos as nossas existências. O espírito
André Luiz, o querido mentor residente na metrópole espiritual "Nosso
Lar", nos propicia signi­ficativas informações ao discorrer sobre os
três tipos de dor experimentados pelo ser encarnado. Vejamos cada um
deles.
 
Dor-evolução
 
"A dor é ingre­diente dos mais importantes na economia da vida em
expansão. O ferro sob o malho, a semente na cova, o animal em
sacrifício, tanto quanto a criança chorando, irresponsável ou
semicons­ciente, para desenvolver os próprios órgãos, sofrem a
dor-evolução, que atua de fora para dentro, aprimorando o ser, sem a
qual não existiria progresso"l. Ampliando ainda mais este conceito
po­demos aduzir ao citado esquema, outros acontecimentos tidos na
conta de desafios provacionais, comuns a quase todos nós na condição
de encarnados.
 
O que ca­racteriza a dor-evolução é o confronto com os vetores
desarmonizantes que nos atingem de fora para dentro, mas que servem
para estimular a paciência, a re­signação, a fé, o perdão e a
capacidade de luta. Poucos amadurecem efetivamente sem que
experimentem dificuldades e obstáculos de toda ordem. "A luta
inten­siva, porém, dilata as aspirações íntimas.
 
 O sofrimento, quando aceito à luz da fé viva, é uma fonte criadora de
asas es­pirituais"2. Os exemplos são incontáveis: é o convívio com o
parente difícil; a pa­ciência a ser requisitada diante do côn­juge
incompreensivo; a dificuldade em educar e encaminhar para o bem o
filho rebelde; as pressões exercidas pela chefia no trabalho
profissional; a ameaça de perda do emprego honesto que nos sus­tenta;
a traição de alguém muito amado em quem depositávamos irrestrita
confiança; a perda precoce de um ente querido vi­timado por acidente
ou doença incurável e assim por diante.
 
São problemas corri­queiros, comuns à maioria das pessoas, mas que nos
atingem de inopino nos deixando marcados pela dor dilacerante e pelas
lá­grimas sentidas. As provações, quando enfrentadas com a devida
resignação e con­fiança no auxílio do Pai Maior, não passam de
convites da própria vida ofertados em prol do nosso aprimoramento
íntimo.
 
Dor-expiação
 
Os erros humanos decorrentes da cólera incontrolável, do egoísmo
obsessivo, das viciações incon­seqüentes, da sexualidade
irresponsável, da maldade premeditada, às vezes, com requintes de
sadismo, são os vetores res­ponsáveis pelos débitos morais que se
acumulam nos bancos imperecíveis de nossa memória espiritual.
 
A prática do mal desarmoniza profundamente a essência pensante, cria
uma espécie de morbo energético de teor vibratório bastante
densificado, que permanece aderido à malha eletromagnética sutil do
campo perispiritual. Constitui-se algo incomo­dativo e desagradável,
por tratar-se de verdadeira moléstia a pulsar nas entranhas multi
dimensionais do ser. Tal condição anômala de natureza anímica é a
respon­sável pelo desencadeamento, na criatura encarnada, de
manifestações degenera­tivas do organismo físico (mal-formações
congênitas, cânceres etc.) tanto quanto de perturbações mentais, ao
mesclar crises de intenso remorso com depressões pro­fundas e
manifestações esquizofrênicas de difícil solução.
 
Assim, manifestam-se as chamadas doenças cármicas, expressões
autênticas das expiações educativas. A dor-expiação se diferencia da
condição citada no item anterior, por não decorrer dos fatores
agressivos externos. Aí está a diferença. Vejamos a respeito, o
pen­samento de André Luiz: "Em nosso es­tudo, porém, analisamos a
dor-expia­ção que vem de dentro para fora, marcando a criatura no
caminho dos séculos, detendo-a em complicados la­birintos de aflição,
para regenerá-la, perante a Justiça... "3. Infelizmente a dor-expiação
constitui-se contingên­cia assídua em nossa programação en­carnatória,
porquanto, nos revelamos carentes de maiores aquisições evan­gélicas,
exceção feita àqueles que já superaram as más tendências e se mos­tram
familiarizados com as práticas da justiça, do amor e da caridade.
 
Dor-auxílio
 
A reencarnação é um desafio expressivo enfrentado com certa
preocupação pelos espíritos mediana­mente evoluídos. No que pese as
boas intenções, às vezes, tais espíritos, quando encarnados, se deixam
empolgar pelos atrativos mundanos e, invigilantemente, sofrem desvios
dos planos previamente traçados no Mundo Maior, não suportando as
provações retificadoras ou assumindo atitudes infelizes passíveis de
precipitarem o fracasso da experiência terrena.
 
Todavia, deixamos do outro lado da vida, aqueles espíritos bondosos
que nos são caros e interessados em nossa proteção. Por isso, diante
da ameaça de tropeços lamentáveis, em certas ocasiões, somos
beneficiados pelo amparo de exceção, ou seja, provi­dências
aparentemente drásticas, mas cabíveis nos esquemas traçados pelos
benfeitores desencarnados em nosso próprio benefício. "O enfarte, a
trombose, a he­miplegia, o câncer penosamente suporta do, a senilidade
prematura e outras calamidades da vida orgânica constituem, por vezes,
dores-auxílio, para que a alma se recupere de certos enganos em que
haja incorrido na existência do corpo denso, habilitando-se através de
longas reflexões e benéficas disciplinas, para o ingresso respeitável
na Vida Espiritual".
 
Em quantas ocasiões, quando compro­metidos pela enfermidade grave ou
pro­longada, nos sentimos infelizes e desam­parados por Deus. Pois
bem. É justamente em tais circunstâncias que devemos buscar a
serenidade mental e agradecermos à Pro­vidência pela doença oportuna
que nos impediu a tomada de uma atitude insana. Nada acontece sem uma
razão plausível, mesmo que, em nossa miséria, não en­tendamos o
significado real da ocorrência. Em verdade, nem sempre interpretamos
corretamente o empenho dos bons es­píritos em nosso favor.
 
Qualquer contingência dolorosa me­rece de nossa parte uma atenção
especial. De acordo com a lei de causa e efeito sempre colhemos o
fruto saudável ou não da semeadura escolhida. O sofrimento resulta do
mal, assim como a felicidade, do bem praticado. Não olvidemos,
en­tretanto, as várias iniciativas alicerçadas no bom senso a serem
mobilizadas na vigência da dor. São resoluções passíveis de minorar as
crises temporárias pelas quais transitamos. A prece habitual, o
comportamento retificador, o descortino mental e o bem que se pode
patrocinar ao próximo, retratam as atitudes inteligentes daqueles que
almejam o bom aproveita­mento da reencarnação bendita.
 
Revista Internacional de Espiritismo - Junho de 2004
http://marcoaureliorocha5.blogspot.com

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