domingo, 30 de abril de 2017

"DEMÔNIOS nosso de cada dia"

Em todos os tempos os "demônios" representaram papel saliente nas diversas teogonias, e, posto que consideravelmente decaídos no conceito geral, a importância que se lhes atribui, ainda hoje, dá à questão uma tal ou qual gravidade, por tocar o fundo mesmo das crenças religiosas. Eis por que útil a Radiestesia a toma-la a examiná-la, com os desenvolvimentos que comporta.
A crença num poder superior é instintiva no homem. Encontramo-la, sob diferentes formas, em todas as idades do mundo. Mas, se hoje, dado o grau de cultura atingido, ainda se discute sobre a natureza e atributos desse poder, calcule-se que noções teria o homem a respeito, na infância da Humanidade.
O grau de poder vem de se servir de um compromisso que lhe é devido a servir.
Quem misticamente usufrui de uma força oculta, esta mesma força mexe com seu orgulho,brios e vaidade e o que deveria "dar de graça por de graça recebeu" ele faz disso um meio de vida,um comércio, um modo de enriquecer.
Dom, trata-se de algo que nasce com a pessoa por algum motivo especial e até como dádiva; um presente recebido de Deus.
Homem DEMÔNIO tem sua ORIGEM, como prova da sua 'inocência", o quadro dos homens primitivos extasiados ante a Natureza e admirando nela a bondade do Criador é, sem dúvida, muito poético, mas pouco real. De fato, quanto mais se aproxima do primitivo estado, mais o homem se escraviza ao instinto, como se verifica ainda hoje nos povos bárbaros e selvagens contemporâneos; o que mais o preocupa, ou, antes, o que exclusivamente o preocupa é a satisfação das necessidades materiais, mesmo porque não tem outras.
O único sentido que pode torná-lo acessível aos gozos puramente morais não se desenvolve senão gradual e morosamente; a alma tem também a sua infância, a sua adolescência e virilidade como o corpo humano; mas para compreender o abstrato, quantas evoluções não tem ela de experimentar na Humanidade!
Por quantas existências não deve ela passar!
Sem que eu tenha de remontar aos tempos primitivos, olhemos em torno a gente do campo e perscrutemos os sentimentos de admiração que nela despertam o esplendor do Sol nascente, do firmamento a estrelada abóbada, o trino dos pássaros, o murmúrio das ondas claras, o vergel florido dos prados.
Para essa gente o Sol nasce por hábito, e uma vez que desprende o necessário calor para sazonar as searas, não tanto que as creste, está realizado tudo o que ela almejava; olha o céu para saber se bom ou mau tempo sobrevirá; que cantem ou não as aves, tanto se lhe dá, desde que não desbastem da seara os grãos; prefere às melodias do rouxinol, o cacarejar da galinhada e o grunhido dos porcos; o que deseja dos regatos cristalinos, ou lodosos, é que não sequem nem inundem; dos prados, que produzam boa erva, com ou sem flores.
Eis aí tudo o que essa gente almeja, ou, o que é mais, tudo o que da Natureza apreende, conquanto muito distanciada já dos primitivos homens.
Se nos remontarmos a estes últimos, então, surpreende mais exclusivamente preocupados com a satisfação de necessidades materiais, resumindo o bem e o mal neste mundo somente no que concerne à satisfação ou prejuízo ao próximo dessas supostas necessidades.
Acreditando num poder extra-humano e porque o prejuízo material é sempre o que mais de perto lhes importa, atribuem-no a esse poder, do qual fazem, aliás, uma idéia muito vaga.
E por nada conceberem fora do mundo visível e tangível, tal poder se lhes afigura identificado nos seres e coisas que os prejudicam.
Mas o homem é comumente mais sensível ao mal que ao bem; este lhe parece natural, ao passo que aquele mais o afeta. Nem por outra razão se explica, nos cultos primitivos, as cerimônias sempre mais numerosas em honra ao poder maléfico: o temor suplanta o reconhecimento.
Durante muito tempo o homem não compreendeu senão o bem e o mal físicos; os sentimentos morais só mais tarde marcaram o progresso da inteligência humana, fazendo-lhe entrever na espiritualidade um poder extra-humano fora do mundo visível e das coisas materiais.
Provada e patente a luta entre o bem e o mal, triunfante este muitas vezes sobre aquele, e não se podendo racionalmente admitir que o mal derivasse de um benéfico poder, concluiu-se pela existência de dois poderes rivais no governo do mundo. Daí nasceu a doutrina dos dois princípios, aliás lógica numa época em que o homem se encontrava incapaz de, raciocinando, penetrar a essência do Ser Supremo.
Como compreenderia, então, que o mal não passa de estado transitório do qual pode emanar o bem, conduzindo-o à felicidade pelo sofrimento e auxiliando-lhe o progresso?
Os limites do seu horizonte moral, nada lhe permitindo ver para além do seu presente, no passado como no futuro, também não lhe permitia compreender que já houvesse progredido, que progrediria ainda individualmente, e muito menos que as vicissitudes da vida resultavam das imperfeições do ser espiritual nele residente, o qual preexiste e sobrevive ao corpo, na dependência de uma série de existências purificadoras até atingir a perfeição.
Para compreender como do mal pode resultar o bem, é preciso considerar não uma, porém, muitas existências; é necessário apreender o conjunto do qual — e só do qual — resultam nítidas as causas e respectivos efeitos.
O duplo princípio do bem e do mal foi, durante muitos séculos, e sob vários nomes, a base de todas as crenças religiosas.
Para o mal, para os vícios e sem virtudes nasce o homem...
Este homem nasce sem um propósito de vida e sem focar na evolução da sua consciência e na realização da verdade da sua alma.
Com o seu "livre arbítrio", a tendencia é errar, a fazer todo tipo de maldade, barbaridade e atrocidades.
A consequência está na raiz dos sentimentos negativos, como apegos, medos, tristezas, mágoas, ressentimentos e irritações.
O ressentimento está cada vez mais vivo do que nunca, aquela tristeza está mais forte do que nunca. Este homem é um "resido de cemitério", com seus vícios por cigarro, por álcool, por drogas,vida desregrada que ainda está muito forte dentro de si.
A doutrina deste "homem demônio" tem, por conseguinte, origem na antiga crença dos dois princípios. Compete a Radiestesia examiná-la estes "atributos", na sua plenitude absoluta, são, pois, o critério do princípio humano, animalesco ainda, cuja verdade pertence a cada um intimamente, no seu particular, do que ensinam e do que aprende,(muito mais do que aprende do ensinam).
E para que qualquer desses princípios seja verdadeiro, preciso é que não encerre um atentado às divinas perfeições.
Assim é o homem de fato, na doutrina vulgar do seus demônios.

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