quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Brincadeira do Copo


copo destaques
Principalmente no Brasil, a “brincadeira do copo”, caneta, compasso e tanto mais tem uma fama sinistra com histórias macabras das terríveis consequências do que teria ocorrido com a prima do cunhado de um conhecido. O mais curioso é que a origem desta brincadeira é mesmo um jogo infantil promovido e vendido há pouco mais de um século nos EUA, o tabuleiro “Ouija”, explorando um efeito da fisiologia humana bem determinado e nada sobrenatural. Mas estamos nos adiantando.


Explicação científica

Não há uma explicação cientificamente provada que diga porque é que os copos se mexem, como afirma a maioria dos praticantes do jogo.

Para alguns, o movimento não é mais do que a mera transferência de energias de uns para outros, passando pelo copo. Uns têm as energias mais fortes que outros, atraindo o copo para si.

Outros sustentam que para conhecer porque se move o copo, basta estudar a Física. O copo move-se seja sobre que material for. Há quem explique que o copo causa fricção em certos materiais e faz com que se desloque sozinho, sugerindo a quem não acredite que tente fazer o jogo do copo em materiais tipo alumínio, ferro ou azulejo.


VIDE O VERSO
A idéia moderna de falar com o além teve início em 1848, com o caso das irmãs Fox, inventoras do “telégrafo espiritual”. Espíritos produziam estalos misteriosos soletrando cada palavra, letra por letra. Embora elas tenham escrito livros inteiros com este método, era algo muito tedioso e com o tempo mesmo elas – assim como uma avalanche de médiuns – passaram a se valer de formas mais convenientes de comunicação com espíritos.
Um dos meios criados para falar com o além foram as “mesas girantes”. Um grupo de pessoas se sentava ao redor de uma mesa (quanto mais leve melhor) apoiando seus dedos sobre ela. Feitas as invocações espirituais iniciais, a mesa logo começava a balançar e girar batendo com suas pernas no chão; as pancadas eram transformadas em sinais: uma pancada para “sim”, duas para “talvez” e três para “não”. Não muito melhor que o telégrafo espiritual, mas o “faça você mesmo” era uma receita para o sucesso.
Surgiram muitas variantes, até que por volta de 1886 o “tabuleiro falante” foi inventado por espiritualistas. Pouco depois a invenção foi comercializada como o tabuleiro “Ouija”. Confira abaixo o tabuleiro vendido em 1891 pela Companhia de Brinquedos Kennard, que começou tudo:
Isso mesmo. Tabuleiros Ouija foram vendidos como brinquedos desde sua invenção há mais de um século. Confira o Museu dos Tabuleiros Falantes para uma galeria de imagens, incluindo este abaixo dos anos 1940, que parece uma toalha de papel do McDonald’s.
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E é quase tão inocente: em seu verso estava um tabuleiro para jogar xadrez, damas e até paciência, para quando você e seus amigos enjoassem de falar com os espíritos.
Nenhum desses tabuleiros vinha com instruções alertando que se o espírito não “saísse” devidamente, continuaria presente para possuir os pobres inocentes brincando com o além. Tampouco houve recall em massa destes terríveis portais para dimensões desconhecidas. Eles continuam sendo vendidos.
Em 1967, em plena contracultura e Nova Era, a companhia de brinquedos Parker Brothers vendeu mais de dois milhões de tabuleiros Ouija, superando seu jogo de tabuleiro mais popular: o “Banco Imobiliário”.
Não apenas isso, tabuleiros Ouija foram usados sem maiores problemas por médiuns conhecidos para supostamente contatar o além desde o início. Em 1912, por exemplo, foi com um tabuleiro Ouija de brinquedo exatamente como os mostrados acima que a americana Pearl Curran disse ter contatado do além a nada maligna “Patience Worth”, hoje famosa entre espíritas.
Supostas conversas com espíritos através da brincadeira do copo foram mesmo responsáveis por um prêmio Pulitzer: o livro Divine Comedies de 1976, de James Merrill, não só descreve suas experiência e diálogos através do tabuleiro e um copo, sem histórias macabras, como é um livro de poemas!
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A história é clara. Tabuleiros falantes, exatamente como a brincadeira do copo, são vendidos há mais de um século como brinquedos inocentes. Mesmo supostos médiuns famosos o usaram sem maiores problemas. Foram até a tranqüila capa de uma popular revista semanal americana, em maio de 1920, com uma ilustração típica do badalado artista Norman Rockwell.
E ambas podem ser curiosas, pelo menos para um artista.
“Eu aprecio tabuleiros Ouija como belas declarações do alfabeto”, escreveu-me o artista norte-americano Monte Thrasher no ano passado. Desde então trocamos ideias sobre o tema e Thrasher partilhou algumas de suas ideias e conceitos fascinantes, como o projeto “Oráculo” de reprojetar o tabuleiro falante.
“Ocorreu-me que o tabuleiro Ouija padrão é desajeitado e exige muito trabalho. Por exemplo, usa-se constantemente a letra A, mas ela está em um extremo do tabuleiro. Por que não agrupar todas as vogais no centro para facilitar o acesso? E depois da letra Q sempre vem um U, logo por que não os deixar juntos, e assim por diante?”, perguntou o artista.
“Isto me levou ao estudo da estatística da criptografia. O T é a consoante mais comum em inglês, e ela se agrupa geralmente com o E, assim devem ser deixados lado a lado. Pensei em tornar as letras mais comuns maiores e as mais raras, menores. Terminei com uma imagem curiosa, algo como aqueles cartazes de letras no consultório de um oftalmologista, mas totalmente maluco, uma mistura aparentemente aleatória de letras. Aqui está um rascunho inicial:”
ImprovedOuijaBoard 13692D destaques
“Ao final a versão com que acabei do Oráculo Tabuleiro não era lá grande coisa. Percebi que minha abordagem estatística à linguagem requeria não uma abordagem gráfica como a destes diagramas, mas uma estatística, uma dispersão de pequenas letras por todo o campo; muitos Es, menos Ts, etc., seguindo o conjunto bem conhecido ETAOINSHRDLU, das letras mais às menos comuns em inglês”.
“Visualmente monótono, mas oracularmente produtivo. É verdade, suas ‘mensagens’ estavam cheias de erros de ortografia e palavras sem nexo, mas qualquer participantes usando o tabuleiro pode aceitar ou descartar quaisquer partes da mensagem que desejar, já que são todas igualmente relevantes. Ou, como um clarividente disse, os Mortos também cometem erros de ortografia”, brincou.
Esta foi apenas a primeira mensagem em que Thrasher comentou o tema. De layouts de teclados a nuvens de palavras, das irmãs Fox ao iPad e além, exploraremos em uma breve série de textos a idéia de reprojetar o tabuleiro Ouija – e, de quebra, sua versão nacional com a brincadeira do copo.

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