Faremos agora uma releitura instigante com re-concepção da
vida de Jesus à luz não das suas virtudes divinas, mas das suas
inconfessáveis fraquezas humanas
Parte da doutrina espiritualista informa que Jesus foi um médium do espírito de Cristo.
Jesus foi um homem e, como
homem, viveu tudo o que um homem vive; sentiu fome, frio, sono, dor,
medo, tristeza, decepção, dúvida... Provavelmente chorou, sorriu, gritou
e cantou...
Jesus Cristo, enfatizando a sua natureza
dividida e o seu conflito interior entre o messias predestinado por
Deus ao sacrifício na cruz e o homem comum e prático que ambiciona
constituir família e desfrutar de uma vida serena e tranqüila no
mais absoluto anonimato.
Sua divindade esteve oculta, inclusive para ele.
Demonstrou sempre a vontade natural e o gosto de viver.
Jesus
era um marceneiro judeu, responsável pela feitura das
cruzes com as quais os romanos crucificam aqueles que se opõem ao
seu domínio.
Atormentado por pesadelos e visões os quais desconhece
o real significado, foge para uma espécie de mosteiro onde, através
de uma decisiva e reveladora visão, toma consciência do seu papel
como o tão aguardado messias.
Na cidade de Nazaré é possível que Jesus fosse um
"nazarita", designação de facção política, e não nazareno.
Os relatos
tampouco respeitam distâncias e coerência.
A partir de então, decide percorrer
toda Israel, professando a sua crença em Deus
(e em si próprio como
o seu emissário direto).
Acompanhando-o está um grupo de discípulos, dentre os quais Judas,grande
amigo e seu braço direito.
Em
todo, era um Jesus inseguro e incerto quanto aos reais
desígnios de Deus; enfim, não divino, mas um ser humano.
Mais tarde, já na
cruz, à beira da morte, Jesus é tentado uma derradeira e decisiva
vez a abdicar de sua responsabilidade para com a humanidade e do
sacrifício na cruz como o escolhido e assumir para si a vida de um
homem comum, com esposa, filhos e uma perspectiva de envelhecer e
morrer como tal...
A partir de então, adentramos no terreno do que o
constitui em sua razão de ser :
"a sua própria tentação".
Jesus se casa com Maria
Madalena, tem filhos e vai envelhecendo como um homem
qualquer.
O vemos exultante ante sua nova condição: de fato, jamais
ambicionara nada mais do que aquilo que passou a ter desde que,
seduzido por um belo anjo, fugiu do sacrifício ao qual estivera
destinado.
Quando, à beira de uma serena morte como um homem comum,
descobrindo-se vitima de um ardil de Satanás, Jesus decide, uma vez
mais, se por à disposição daquele de quem estivera fugindo durante
todo o tempo.
Velho e debilitado, o ex-Messias rasteja por entre os
escombros de uma Jerusalém sitiada pelos romanos implorando o perdão
de Deus.
E, afinal, o consegue. Mas não somente a isto!...
Em
questão de meros instantes, Jesus novamente se vê crucificado.
Novamente tendo de enfrentar o mesmo sacrifício do qual houvera
fugido antes.
Mas, desta vez, irresoluto, decidido a
enfrenta-lo.
E tudo já lhe parece, então, tão natural que ele até
chega a ostentar um breve sorriso um tanto quanto zombeteiro, num
misto de satisfação e comodismo de uma pessoa de quem sempre se
esperou absoluta divindade, mas que não consegue escapar da sua mera
e tão própria humanidade.
Somos criados a semelhança de Deus, por
que,então,nós se furtaria a refletir o que temos de mais particular e
humano: a nossa própria natureza conflituosa, posto que comumente
somos postos de encontro a convenções ou marcais culturais que nos
restringem.
De qualquer modo, tanto quanto ser seduzido por um lindo
anjo, sem dúvida parece muito mais tentadora a releitura
do que a concepção
tradicionalmente acatada, tão destituída de humanidade quanto um
autômato. re-concepção da
vida de Jesus à luz das suas virtudes divinas
Alguns espiritualistas preferem separar o "Jesus"
da história, grande homem e médium; de "Cristo", a verdade espiritual
que ele nos trouxe.
Em todas as religiões, o que se faz em
nome de Cristo é bom, e não pode ser afetado pelo que se fez de mentiras
em nome de Jesus.
Se simples fatos históricos ou ficções policiais
abalarem nossa fé, devemos questionar se não havia um dogma eclipsando
nossa verdadeira essência espiritual.