Rituais são desnecessários, em última instância. O Espiritismo deixa isto claríssimo, com o seguinte raciocínio: se somos espíritos e apenas estamos na matéria, então o espírito é absolutamente preponderante sobre a matéria. Logo, para realizar ações de comunicação entre espíritos (mesmo que um esteja na matéria) e para manipular matéria no nível espiritual (ou energia, entenda-se), a matéria é totalmente dispensável como instrumento. Daí não haver rituais nem instrumentos no Espiritismo. Acontece que esta é, como não podia deixar de ser, a visão racionalista do século XIX. Sua lógica é implacável, mas ela simplesmente não leva em consideração o fato de o ser humano - ou seja, o espírito - não estar em condições ideais de temperatura e pressão, ou seja, não ser perfeito.
Se tomarmos o raciocínio do parágrafo acima e o radicalizarmos, chegaremos à conclusão que não é preciso se mexer para digitar, basta pensar e controlar o computador com a força da mente - o espírito. E finalmente, perceberemos que não precisamos encarnar... E realmente este estágio chegará, quando finalmente nos conscientizarmos disso. Só que ainda não o fizemos. Por enquanto precisamos encarnar e digitar. O que a Umbanda faz é levar este raciocínio do reconhecimento de nossas necessidades mais além, e reconhecer que a matéria pode ser útil neste momento em que ela é necessária a nós. Em vez de ela afirmar que a matéria é algo a ser descartado, ela a aceita e a utiliza a seu favor, para realizar quase que as mesmas coisas que o Espiritismo faz. O nome disso é instrumentação.
A instrumentação consiste em usar rituais e matéria para facilitar a mediunidade e a manipulação energética. Ela parte do princípio de que mediunidade é algo orgânico, definido na encarnação, e manifesto em componentes do corpo fluídico - que é matéria, ao fim e ao cabo. Considera também que a manipulação energética é material, e que por isso não há nada de errado em usar matéria para isto. E como se dá isto? através da ritualização, por exemplo. Mas que fique então claro o que significa ritual neste caso: O ritual não é um gesto repetido de maneira alienada, como define a Codificação. Nela, referia-se aos gestos católicos - que têm muito sentido, mas estes foram sendo esquecidos pela maioria dos fiéis. Qualquer padre sabe o sentido real de tudo o que se faz em uma missa. Na Umbanda também é assim. Mas o que dá a estes gestos e atitudes (cantos, danças, posturas, objetos) a força de facilitarem os fenômenos? Duas coisas:
1- A questão material. Se eu tenho de jogar energia em alguém, o que é melhor: ficar parado em pé a dois metros de distância ou me aproximar e estender as mãos? No passe se faz assim, no Espiritismo. Se a pessoa está refratária ao passe, o que fazer? Pode-se diluir a energia na água e ela beber. A absorção pelo trato intestinal e estômago é bem maior que pela pele, o que facilita o benefício mesmo sem a predisposição do beneficiado. O Espiritismo também usa isto. Na Umbanda, isto vai ser adequado a cada espírito e seu contexto. O boiadeiro grita "Eh, boi!!!" e dissipa energias assim, gira o laço no ar e esparge energias nas pessoas. A criança dá uma bala a alguém - esta bala é um passe como a água fluidificada. O preto velho sopra fumaça na sua cara - idem. Exemplos há a granel.
2- O poder simbólico. Assim como, queiramos ou não, o sinal da cruz tem a característica de criar um campo de força benéfico - quando feito com fé verdadeira, assim como o horário das seis horas da tarde tem uma energia característica, assim o gestual da Umbanda tem, resultado de seu uso e de seu simbolismo. A Umbanda usa este simbolismo a seu favor. O Espiritismo prefere deixar isto de lado, projetando seu olhar sobre o futuro mais distante. A Umbanda é uma religião pensada para o agora, o que não é demérito nenhum. Esta é minha opinião espírita, repito. Para ser debatida à vontade.
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