Doenças da alma, pantanais da alma, miséria espiritual são títulos de livros de ontem e de hoje. As quatro doenças da alma que aqui refletimos têm sua inspiração em Platão.
1. A insensatez. O insensato tem falta de bom senso. Age sem refletir. Não pára afim de pensar, discernir e optar. A insensatez consiste em não cultivar o conhecimento e viver de modo superficial, instintivo, efêmero.
Ao insensato falta a lógica, a profundidade, a reflexão, a filosofia. Não há gosto pelo estudo, pelo cultivo pessoal, pela sabedoria. A imaturidade, a ingenuidade, a superficialidade são expressões de insensatez. “Até quando amareis a ilusão, procurareis a falsidade e fechareis o coração”? (Sl 4,3). A vida não pode se fundamentar na dúvida, na incerteza, na mentira, na satisfação efêmera dos desejos.
O insensato cai facilmente na arbitrariedade, na sensualidade, no consumismo, na lógica da moda e das opiniões. Falta-lhe o amor à verdade. A insensatez aceita como verdadeiro o que é agradável, dá sucesso, causa sensação. O máximo da insensatez é a “soberba filosófica” e a ocultação da honestidade intelectual. Em nossa sociedade, a idolatria, o mercado, o vazio existencial, o stress são doenças da alma enraizadas na insensatez.
2. A intemperança. É a falta de autodomínio, satisfação dos desejos, permissivismo ético. Sem a temperança somos escravos dos vícios e paixões, buscamos alívio no barulho, na farra, no álcool como sedativos para nossa alma doentia. Assim, a intimidade vira sensualidade, e depois, promiscuidade. Hoje é um imperativo, uma obrigação o sexo livre, a transa, a libertinagem. Vivemos uma exasperação erótica e uma desumanização da sexualidade.
A virtude da temperança consiste em ordenar os afetos desordenados, sublimar os impulsos instintivos, humanizar a sexualidade, para alcançar a maturidade e a paz interior. A temperança é educação para o amor.
3. A injustiça. Consiste em não agir corretamente, mas de modo egoísta, oportunista, excludente e opressor. O outro é descartável, sobrante, excluído. Falta a consideração e satisfação pelo bem estar dos outros, pelo seu sucesso e seus direitos. O injusto desconhece a compaixão, a sensibilidade, o altruísmo. O outro é apenas um meio para seus interesses ou uma ameaça a descartar.
Amai a justiça, vós que governais a terra, diz o livro da Sabedoria. A justiça é o primeiro passo do amor. Diz o profeta Miquéias: “O bem consiste em praticar a justiça, amar a misericórdia e andar corretamente na presença de Deus” (Mq 8,3). As desigualdades sociais, a corrupção, a depredação do meio ambiente são patologias sociais cuja origem é a doença da alma chamada injustiça.
4. A impiedade. Ímpio é o que nega o divino, o transcendente,, o espiritual, enfim, nega a Deus. Para o ímpio, a religião e as coisas espirituais não passam de obsessão neurótica, atraso cultural, obscuratismo e magia. A impiedade se manifesta na incredulidade, na indiferença, no desinteresse pela dimensão espiritual. Deus além de ser estorvo, é inútil. Seu lugar é o exílio.
O ímpio rejeita Deus e adora ídolos. Combate a religião e endeusa a razão. Tem o pensamento obscurecido porque o amor de si o leva ao desprezo de Deus. A impiedade se radicaliza no desrespeito à liberdade religiosa, tudo em nome do desenvolvimento humano. “O humanismo que exclui Deus é um humanismo desumano” (Bento XVI). A impiedade aprisiona a verdade, petrifica o coração, inverte valores. Eis o que é a doença da alma chamada impiedade.
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